Futuros amantes

Ela acordou agitada, mal fechara os olhos desde aquele contato no dia anterior. Uma mensagem, uma frase: apenas três palavras foram suficientes para o coração disparado, as mãos trêmulas e os sonhos tirados da gaveta. Já desistira há anos, sabia disso – era inteligente e acreditava que poderia provar qualquer coisa, até que isso não daria certo. Não dava certo e ponto. Assumir essa posição era mais fácil do que achar uma solução – ou concluir que não existia alguma.

O que incomodava era o sentimento que voltava à tona, mesmo sem ter sido chamado. Aquela velha ansiedade, esquecida no fundo do peito, sussurrava lentamente:

- E se?

Três anos é muito tempo. Estava bem assim, e preferia nunca ter lido aquilo, mesmo sabendo que era mentira, que qualquer coisa além daquelas três palavras era pura mentira. Sabia que se alguma coisa fazia sentido, era como elas se combinavam, uma seqüencia lógica e emotiva, a frase mais real que existia no seu mundo. Se ou não se, eis a questão que vinha atrás de um segredo, de uma confissão para si mesma:

- Eu amo você.

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Futuros Amantes

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você